domingo, 13 de abril de 2014

Na tal cidade ...

Na tal cidade ...

Foi dito que Natal é a tal e não tem outra igual. E dos médicos, dos poetas e dos loucos, todos nós temos um pouco. A tal cidade, tal como outras é um conjunto formado por seres pensantes normais e anormais; sociais e antissociais; com parcimônias e intelectualidade. Assim a tal cidade obedece e não foge a regra do dito, do empirismo e do conhecimento popular. Uma cidade é um ser vivo formado por uma diversidade de culturas, pensamentos e comportamentos. Com saberes e sabores; odores e bolores, tatos e visões de médicos, poetas e loucos.

Conselheiros, consultores e procuradores, causídicos e jurídicos, varas de escritores e de famílias. Desde a época das camisas de sete varas, Natal se constrói com varas de marmelo e de goiabeira, em lombo de burro e de jumento; em filho arengueiro e homem detento.

Doutores tal como os Julios: o de Castilho, o de Resende e o de Mesquita; o Odúlio dos Medeiros. Natalenses irrecuperáveis como diria Câmara Cascudo. Em áureos tempos dos Xarias e dos Canguleiros, as tribos urbanas de séculos passados separadas e apartadas: por porções da cidade, na cidade alta e na cidade baixa; por peixes que pescavam, compravam e consumiam; pelos peixes e porções que lhes restavam e lhes cabiam.

Ao longo da história e da memória, nomes e famílias vão deixando herdeiros da cultura e da literatura. Reunidas de Guanabara ao Maranhão por obras, ruas e avenidas. Nomes e famílias eternizados em logradouros públicos. Um registro em placas nas esquinas, um túnel do tempo.

Do túnel ao viaduto, ruas, praças e pracinhas. Rodoviárias e rodovias, portos e aeroportos. Vielas e passarelas, da vila frugal de modestas moradias ao conjunto residencial. Dos referenciais de morador e moradia: Francisco da 15, e Leonardo da 20, em um tempo que as ruas eram conhecidas e reconhecidas por números, obedecendo a um padrão americano.
Entre projetos arquitetônicos e faraônicos, com nomes ilustres vão sendo batizados e inaugurados. Monumentos com verbas e emolumentos, investimentos públicos, privados e privatizados, dando mais valores aos motorizados.

Na tal cidade, pessoas e famílias como os Navarros, dão nomes a ruas e vertedores veiculares, como Newton que dá nome a ponte que cruza o rio Potengi. E o Jurandyr, que faz a ponte entre as academias literárias, geográficas, jurídicas, históricas e de memórias.  

Já o Isaac, o Newton físico e filósofo, disse que era preciso subir em ombros de gigantes para enxergar novos horizontes, enxergar mais longe, e a ponte sobre o Rio Potengi foi o gigante que deslumbrou um novo horizonte a partir de seus ombros, com seus braços que se estendem nas margens opostas do rio, mãos com dedos abertos fazendo pistas de acesso ligando os dois lados da cidade. Lados sempre em oposição geográfica e urbanística. Oposições de margens e de IDH, com diferenças de ofertas de serviços de saúde, transporte, habitação e educação.

Famílias com Carlos e Carlos, que lembram o cajueiro de Pirangi que foi enraizando aqui e ali, aumentando, formando uma galharia, hoje protegida e apoiada por vigas e postes de alvenaria. Com uma raiz principal crescendo, criou novas raízes. Com nomes e codinomes de Abdias e Abdon a Zuleika e Zuleide, inclusive com letras Ks, Ys e Ws, passando por Jaécio e Jailsons.

Luas e ruas de sangue, da serpente da lagoa de Extremoz aos mártires de Cunhaú e Uruaçu. Na tal cidade de guerras locais, regionais e mundiais, com praças e pracinhas, com ataques e defesas com o obuz, o projétil da artilharia em defesa do solo e da pátria, e o Ormuz do Instituto de Genealogia, em defesa das memórias das famílias.

Localizada em um estado que o contorno lembra um elefante, com cidades que remetem a uma lembrança de outros estados e de outros países, com localizações, situações e comemorações. Patentes, triunfos e pendências: tenente, major e coronel; senadores e governadores; altos e baixos; novas e velhos; cachoeiras e gargalheiras.

E assim Natal a capital, vai se construindo e se reconstruindo, renascendo entre presidentes e prudentes, prolongando e alongando ideias, decisões e avenidas. Já teve iluminação por motor, candeeiro e lampião. Agora véspera de Copa e com padrão do patrão FIFA, instala containers geradores e monitores. Containers atentos e de prontidão, a movimentação urbana e iluminação emergencial.



Entre Natal e Parnamirim/RN ─  13/04/2014


Texto escrito para:

Jornal de HOJE – Natal/RN