sexta-feira, 11 de março de 2016

A Bruxa de Jucurutu


A Bruxa de Jucurutu

 PDF 592


Consta nas anotações de Pedro Velho, a história de uma bruxa que morava lá para as bandas de Jucururu. Morava em uma casa de pedra bem pertinho do Rio Piranhas, onde se avistava ao longe a pedra do Navio. Ela andava pelas florestas, carregando um saco cheio de jucurutus, criava alguns janduís, e tinha um caicó.
E com sua vassoura cutucava as rochas e os terrenos; revirando pedras enormes transformando em metralhas e entulhos. E esta é a razão de hoje as terras do Seridó, parecer um campo de metralhas, por tantas pedras quebradas e espalhadas pelos campos. Fato observado em beiras de estradas. Ela procurava talco e bauxita. E com tanto talco encontrado, já estava ficando muito pálida, que era a forçada usar roupas escuras. Não queria ser confundida com um fantasma, ela era uma bruxa.
Com o cabo da vassoura ela cutucava as rochas e as pedras, e com o lado da piaçava ela varria os minerais que apareciam, transformados em pó. A matéria prima para fazer o pó de pirimpimpim. E de tanto cutucar pedras e rochas, e ainda no final do dia, viajar voando em uma vassoura, já estava ficando com dor nas costas, colecionando lordoses e escolioses. Um médico lhe disse, que se não parasse, e não se cuidasse, ia em breve adquirir uma esculhambose. Mas com tantos minerais circulando em sua volta, teve uma ideia, construir uma cadeira, que além de andar pelas ruas, poderia voar.
E assim começou a história da ponte aérea, de Natal para Jucurutu, com uma única passageira, em cadeira reservada e exclusiva. Fazia escala em Parnamirim e São Gonçalo do Amarante, locais onde tinham pistas e torres de controle, controlando o espaço aéreo. Conhecia algumas bruxas no caminho, como a Bruxa de Emaús, que tem um carro amarelo, ainda estacionado no posto do DUDU. A Barreira do Inferno fica de prontidão, com misseis preparados, caso elas em excesso, interfiram ou atrapalhem o movimento no espaço aéreo.
Outras e muitas histórias, existem sobre a bruxa de Jucurutu, mas ainda faltam provas. Dizem que ela transportava e contrabandeava o pó de pirimpimpim. Abastecendo outras bruxas, que hoje moram em lagoas, na Região Metropolitana de Natal.
Viaja exercendo alguns papeis bem diferentes, de passageira, de comissária e de aviadora. Tem até uns óculos com modelo de piloto. Hoje ela ainda participa e frequenta uma confraria de bruxas, em algum lugar secreto em Natal. Dizem ser um lugar muito perigoso, praticamente impossível de achar e difícil de entrar. Está cercado e vigiado com catitas e daluzinhas.
Muitos dizem que não creem, em bruxas, mas juram que elas existem. E não é que já foram vistas muitas bruxas reunidas, bebendo agua no tororó da lagoa nova. Inclusive tem gente, com jeito de professor, que vai sempre ao tororó encher uma garrafa com água. Depois fica nos eventos, tomando aos goles.

segunda-feira, 7 de março de 2016

A gaúcha que perdeu os butiás no Catete



A gaúcha que perdeu os butiás no Catete
 PDF 589


Vá e venha pela Penha. Vá e venha pela Penha. A guria depois de horas e horas, sentada em um ônibus interestadual, dormindo e acordando; dormindo e acordando .... Chegou de lomba na rodoviária carioca. Desembarcou na Rodoviária Novo Rio com uma música repetitiva e constante em sua cabeça, que começou na rodoviária de embarque, prolongando-se pelas escalas ao longo da BR: Vá e venha pela Penha; vá e venha pela Penha; vá e venha pela Penha.

A menina saiu da baia, meio de canto. Largou a querência. Embarcara no velho Eliziário em Porto Alegre, com paradas técnicas e estratégicas em Florianópolis, Curitiba e São Paulo, fora as escangalhadas pelo caminho. Decorou todas as placas da BR 116, iria construir uma história, no estilo: notas, relatos, ou anotações de uma viagem. Da Rota 66 para a BR 116.

Durante a viagem aproveitou as guloseimas servidas a bordo, em uma caixinha de papelão, com a letra de uma música impressa na tampa: Vá e venha pela Penha; vá e venha pela Penha. A caixinha continha um guardanapo e um palito, mais as tais guloseimas, como balas, bombons e chocolates Neugebauer. Nadica de Gramado ou de Canela. Entre as guloseimas oferecidas a bordo, deliciava-se com os butiás que trouxera em uma bruaca, jogando os caroços pela janela, como quem tivesse a intenção de deixar uma trilha dos rumos tomados.  Alguém poderia seguir seus caminhos, talvez algum cambicho de CTG. E até quem sabe a thurma do Beira Rio, ou a comitiva Farroupilha, vestida a caráter, montada a cavalo com uma bandeira em punho seguindo na frente da comitiva. No bornal trazia um saquinho com alguns butiás, uma bomba e uma cuia de chimarrão. E ainda tinha uma fieira de bergamota em uma sacola. A erva vinha em uma mala, precavida por talvez, não encontrar a erva em alguma bodega ou um bolicho, da Cidade Maravilhosa.

E ao descer a serra das Araras, o Rio de Janeiro, já era terra à vista. Começou a avistar as pandorgas, no céu da Baixada. Restando alguns butiás guardou-os no bolso. O cheiro das bergamotas descascadas, pairavam no ar, dentro do ônibus. Depois de horas sentada, espremida contra a janela, pela delicadeza de seu enorme companheiro de viagem, o Rei Momo, meio que de revesgueio, quando lhe contou como era o carnaval carioca. O que mais queria ao desembarcar, era estar em volta de uma fogueira, com uma chaleira fervente e um giro de chimarrão, entre os que estariam mateando em volta da fogueira. Na estrada só tomou tererê.

Desembarcou na rodoviária e se viu perdida, com os recavém doloridos. Todos os ônibus urbanos cariocas, estavam pintados com uma cor praticamente igual, só se diferenciavam por uma pequena faixa colorida. Apostou na sorte e na intuição, e foi parar no Catete, por sorte não foi para o Irajá, para Caxias ou Jacarepaguá. Quando viu a igreja no Largo do Machado, pensou, é aqui que eu apeio. Rodou a praça inteira caminhando, depois saiu campeando e observando tudo despacito. Resolveu então subir pela rua das Laranjeiras, e antes que chegasse ao topo do Corcovado, fez meia volta no Largo do Boticário. E de volta ao Largo do Machado, lembrou-se dos butiás guardados no bolso. Perdi os meus butiás que estavam no bolso, pensou entre calafrios. Bah, e agora? Oncotô? Proncovõ? Montou no porco. Procurou um CTG, mas não encontrou.

Neste ponto já tinha chegado a praia e avistado a Pedra de Itapuca, que o povo de Niterói diz ser um cagalhão de gigante. Sem saber do nome pejorativo, disse que naquela pedra ou perto da pedra iria trabalhar. Achou o lugar tri-legal. Mas precisava pegar uma barca ou atravessar a ponte. Parou na pastelaria da Praça XV e disse: qualé do teu pastel! O balconista chinês ou coreano, não entendeu nada.

Comprou um cacetinho com matambre, na responsa, e encheu o buxo. Pegou a xerenga da bolsa, e comprou uns tarecos. E a prenda resolveu alugar uma baia, pela redondeza do Largo do Machado; cursar uma faculdade de teatro bem ali pertinho, a caminho do Pão de Açúcar, lá para as bandas da Urca. A gaúcha que perdeu os butiás do bolso, ainda anda perdida pelas ruas do Catete. Mas lembrou das dicas do Rei Momo. Não perdeu tempo para ver a banda passar, cada dia era um bloco e uma fantasia. Por pouco não vai para a Banda de Ipanema, ou da Barata Ribeiro. Mas tem medo de túnel, prefere o circuito Catete - Laranjeiras – Cosme Velho, quem sabe talvez, no Suvaco do Cristo. E a última vez que foi vista estava em um bloco carnavalesco fechando o carnaval na quarta-feira de cinzas, pelas ruas do Catete.

Desistiu de procurar seus butiás perdidos. Agora procura pelas redondezas onde ainda há um restico de mata, um pé do fruto de nome butiá, que fica bom na cachaça. Já não tem certeza de encontrar seus rastros deixados pelas estradas. E o povo de Porto já alertou os gansos. Mandou o bilhete de passagem paga, para ela voltar. O ônibus já parou no Catete esperando um embarque, cumprindo o desejo e a promessa no slogan. Vá e venha pela Penha. O motorista já está com o pé no estribo. Mas parece que ela não quer voltar, vai ficar esperando o próximo bloco passar.

Da vida de tropeiro andando pelos caminhos, com a guaiaca na cintura, agora é sambando que segue a tropa que passa na sua porta, julgando ser uma porteira na portaria, com um menino a acenar.






Em RN 07/03/16

por

Roberto Cardoso (Maracajá)

Branded Content (produtor de conteúdo)

Reiki Master & Karuna Reiki Master

Jornalista Científico

FAPERN/UFRN/CNPq



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sábado, 5 de março de 2016

Lugar de mulher é na cozinha



Lugar de mulher é na cozinha.
 PDF 588


No mês da mulher, cabe lembrar e relembrar uma ideia, que alguns chamam de grosseira ou machista. Lugar de mulher é na cozinha. O ambiente onde deve imperar o asseio, a organização e a limpeza, um ambiente arrumado, organizado e higienizado. A cozinha é o local mais equipado de uma casa, o local ideal para uma mulher ficar horas durante o dia. A opção e o local de demostrar seus dotes e seus conhecimentos: mulher, mãe e esposa; dona de casa e enfermeira.

Em uma cozinha podemos encontrar desde os tempos antigos, fogões e panelas. As cozinhas evoluíram e ganharam uma pia com agua encanada, algumas até aquecidas, possibilitando lavar as panelas, que antes podiam ser lavadas em um tanque do lado de fora. Ainda que se usasse uma alavanca ou uma manivela, para a agua chegar em um tanque ou uma pia. Nas cozinhas rusticas ou improvisadas, antigas ou humildes, ainda se lavam os utensílios em improvisadas bacias.

Inicialmente as cozinhas não tinham portas ou janelas, não tinham teto ou parede. Era com uma fogueira cercada e protegida por algumas pedras e com algumas panelas, que as comidas eram preparadas dentro de uma caverna ou em um campo aberto, protegido do vento. Cozinhando caças e coisas catadas. Caçadores com armas e apetrechos.

O ato de cozinhar criou a cozinha, primeiro com chá, café e chocolate. Comidas com condimentos: cúrcuma, colorau e cominho. Com copos, canecas, cuias, colheres e chaleiras; com carvão e cinzas, criou-se a cozinha. Um cárcere, uma cadeia, a partir de uma caverna, um condicionamento. A mulher que não saía da caverna para caçar ou catar alimentos, restou-lhe a cozinha, para preparar os alimentos que outros iam buscar. E assim criou-se uma casa e um lar.

Com a construção das casas, um espaço foi reservado para ser a cozinha, ganhando tetos e paredes. E um espaço na cozinha, denominou-se como a dispensa, antes de existirem os armários. Peças de carne ou salgados, foram pendurados acima do fogão, criando os alpendres com os defumados. Alimentos frescos ficaram junto aos potes onde era armazenada a agua.

Hoje podemos encontrar em uma cozinha a evolução da fogueira, que passou a ser o fogão a lenha, depois a carvão. Usou-se também o querosene. Hoje em uma cozinha encontramos o forno e fogão a gás, O micro-ondas e o forno elétrico. Algumas cozinhas ainda podem preservar o forno e o fogão a lenha, como espaço bucólico de arte e lazer. O espaço gourmet ficou do lado de fora. Surgem agora as panelas elétricas, que podem ir direto para a mesa. A cozinha sobre a mesa na sala de jantar. Cada um pode preparar seu próprio alimento com chapas elétricas. A lembrança da fondue, que surgiu no meio rural com diversas sobras de queijos e lascas de pão e o povo em volta da mesa, lembrando as antigas fogueiras.

Além da dispensa e dos armários para guardar os alimentos ainda não preparados, surgiram o freezer e a geladeira. E alimentos prontos também puderam ser estocados. E na cozinha podemos encontrar, alimentos estocados, alimentos prontos, quase prontos e preparados, alimentos secos, em conservas ou in natura. Alimentos para serem preparados e alimentos prontos para serem consumidos. Um local ideal, sem precisar caçar ou pescar, tudo ali está armazenado. A caça e a pesca, bem como a coleta de grãos, frutos e sementes, agora é no supermercado. Basta tem uma arma ou um instrumento na bolsa ou na carteira, em espécie ou de plástico.

Com o aumento dos utensílios, pratos, talheres e panelas. Chegaram as baterias, as pratarias e as baixelas. Aparelhos de chá e de jantar. Conjuntos para lanches e pizzas. Conjuntos de taças e copos diversos. Aumentando o volume de louças e equipamentos para sujar e lavar, surgiu a máquina de lavar louças e outros apetrechos. Sabões, detergentes, esponjas e esfregões sempre estiveram perto e à mão. Normalmente junto a pia, e até um par de pias.

Em uma cozinha podemos encontrar uma diversidade de líquidos. Desde a agua em cabaça ou moringa. De poço, de açude ou de cacimba; encanada de rua ou mineral. Envasadas em potes plásticos ou em garrafas e garrafões. Natural ou gasosa. Agua em filtro de barro e filtros que gelam a agua. Purificadores e ozonizadores. Com temperaturas diversas desde ao natural, passando pela fresca e chegando a gelada e congelada. Panelas e chaleiras em ebulição liberam agua em estado gasoso. Na cozinha encontramos a água nos três estados da matéria: sólido, liquido e gasoso. E as suas transformações: evaporação, condensação e sublimação. Encontramos também líquidos aditivados e com sabores, no modelo de sucos e refrescos; cervejas ou refrigerantes. PET, one way ou retornável; reciclável e descartável. A cozinha como um oásis. Com direito a visagens e alucinações.

A cozinha já foi a entrada da casa, perdeu status e foi para os fundos. Sendo a entrada era possível ver e avistar quem chegava. Indo para os fundos perdia o contato com a rua. Com a evolução da tecnologia a cozinha começou a ter contato com o mundo, restabelecendo o elo perdido. Primeiro foi a campainha, avisando que alguém está na porta, que evoluiu para o interfone, alguns com câmeras, identificando visualmente a visita. A evolução da janelinha da porta e do olho mágico, usado por muito tempo na sala, a entrada principal. O telefone tem identificador de chamada, um conjunto de olho magico e janelinha, antes de atender a chamada ou o toque da companhia.

Com uma mesa e uma cadeira na cozinha é possível comer, escrever, sentar e descansar, e até tirar um cochilo. Assistir TV e zapear. A mesa e a cadeira não só facilitam os afazeres de uma cozinha, como também permitem realizar outras tarefas que não fazem parte das tarefas de uma cozinha. Como escrever cartas e fazer o dever de casa marcados pelo colégio ou faculdade. Vigiar os filhos nas tarefas escolares. Ler um livro ou uma revista. Com um notebook é possível ler e enviar e-mails. Dar uma volta pela internet enquanto a agua não ferve. O apito da chaleira, e o som da panela de pressão, ou o relógio do fogão, dá um sinal, que é preciso desconectar, ficar em stand by, ou oculto na rede. E os olhos se viram para o relógio na parede.

Um local para o rádio foi adicionado, espaço para o AM e o FM. Alguns com toca-fitas, chegando ao tocador de CDs. E chegou a televisão, saindo da sala, também querendo um espaço na cozinha, antes eram pequenas, agora em pequenas paredes encontramos as de LED ou LCD, marcando seu espaço na cozinha. O quadro de força e luz, costuma ser no local ou bem perto, facilitando alguma emergência. O estojo de remédios ou pronto socorro também está perto. Já existem inclusive os extintores domésticos. Saída de serviço, com acesso as escadas e elevadores. A mulher como dona da casa e rainha do lar foi montando e equipando o seu espaço. Um local estratégico, lembranças dos tempos de bruxas. A possibilidade dos usos dos caldeirões, com vista para floresta, de onde vinham os ingredientes e seus clientes. A casa é controlada a partir da cozinha.

A cozinha atual se transformou em espaço multifuncional, com água e comida, rádio e televisão. Telefone fixo e celular. Algumas possuem adegas, inclusive das climatizadas. Com a última geração de telefones móveis, o computador vem ganhado espaço, no local onde há possibilidade de ficar um bom espaço de tempo no decorrer do dia. A cozinha oferece casa, comida e roupa lavada. Com direito a alimentação e entretenimento. Ninguém está sozinho na cozinha, está em contato com vizinhos e parentes, e conectado com o mundo.

Existem cozinhas que também possuem um espaço reservado para taboa de passar roupa e máquina de costura, talvez um tear. O tanque de roupas e a máquina de lavar roupas também estão bem próximos, algumas vezes separados pela metade de uma parede, e sem porta. Algumas cozinhas podem ter até um ventilador, para as horas quando faz mais calor, com o forno aceso e com a tarefa de passar e engomar roupas. Ainda não inventaram um lugar para o ar condicionado, que entraria em atrito e conflito com o calor produzido pelo forno e o pelo fogão. Brigariam por ambientes quentes ou frios. A legislação sanitária e de engenharia não permite o banheiro junto a cozinha, caso contrário ele estaria presente.

Caso a mulher reclame de ficar muito tempo na cozinha, a estratégia é começar a retirar os equipamentos que ocupam o espaço. Deixando a cozinha para a única função que foi idealizada e construída, a preparação da comida. Não importando a responsabilidade da execução da tarefa. Homem ou mulher, parente ou amigo, morador ou empregado.



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